O texto abaixo foi escrito por Juan Filipe Garcês
A resenha aqui apresentada refere-se à edição de bolso, que por conseqüência, acaba sendo de fácil manuseio e mais acessível em comparação a um livro normal por estar mais em conta em se tratando de questão financeira.
A história começa no século XVI, retratando a vida de Domenico Scandella, conhecido como Menocchio, um moleiro que foi perseguido pela inquisição por ter uma visão diferente da sua época em relação à igreja. Ele é submetido a uma série de interrogatórios, e neles, vai apresentando suas idéias, e as obras que tomou como ponto de referência. Não levava a Bíblia como idéia universal, e isso contribuiu para os inquisidores o tratarem com um certo receio. O autor mostra diversos livros e artigos no qual Menocchio lera e teria tomado como referencia para suas idéias, embora afirmasse que elas vieram de sua própria cabeça.
Houve uma preocupação entre alguns moradores da aldeia onde morava sobre seu destino. Alertaram-no para não ficar mencionando as suas idéias abertamente, mas foi corajoso o suficiente para não se reprimir perante a inquisição, usando assim, diversos argumentos para defender suas idéias, e uma das principais, foi sobre seu pensamento sobre a singularidade cosmológica, cujo foi a partir daí que Ginzburg teve a idéia do título do livro, na qual afirmava: “No inicio tudo era um caos, isto é, terra, ar, água e fogo juntos, e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, do mesmo modo que o queijo é feito do leite, e do qual surge os vermes, e esses foram os anjos”.
Não menos pretensioso, afirmou que conversar com uma árvore era equivalente a se confessar com um padre. Conta também, alguns relatos de padres canibais que sacrificavam pessoas e comiam suas carnes, e se tivesse bom gosto, era uma pessoa livre de pecados, caso contrário, seria uma pessoa impura e deveria ter morrido antes.
A principal característica do autor nesta obra, é contar uma história em que normalmente muitos passariam despercebidos. Por escrever através da metodologia da micro-história, a principal característica do livro e contar a história de alguém ou algo que não teria uma grande importância na sociedade e sua determinada visão. Apresenta uma história descritiva, mas tendo grande preocupação com a literatura. Mostra uma pequena demonstração da cultura oral, que os camponeses normalmente utilizavam. Na época em que a história se passa, poucos tinham a sorte de saberem ler, então a forma de cultura oral era importante, mas com elas, seria difícil decifrar uma informação, ou se conseguisse, deixaria muitas pistas distorcidas. Por esse e outros motivos, Menocchio achava uma ofensa aos pobres as missas serem rezadas em latim. Menocchio tinha um pensamento formado, mas é indiscutível que se não fosse pela lista de livros que lera, ele não teria metade dessas idéias.
Embora Menocchio fosse um moleiro, não teve medo de expor suas idéias e suas contradições, ao contrário de muitas pessoas da época, que não as colocavam por medo da inquisição, preferindo assim, aceitar os dogmas. Em caso de acusações pela inquisição, era preferido ser chamado de louco para não ser condenado por heresia; foi uma das propostas oferecidas para Menocchio, que corajosamente não aceitou. Num determinado trecho do livro, ele foi submetido a uma tortura, obrigando a confessar suas “heresias”. Uma grande análise pode ser feita em relação a essa tortura, mas vou deixar a surpresa para os leitores.
Podemos ainda perceber que Menocchio se interessava muito pelos assuntos religiosos, tanto que ele tomou como referencia a Bíblia e o Alcorão. Expôs uma teoria de que Jesus era apenas um homem comum, e não aquela figura espiritual que o cristianismo colocava. A cada afirmação, Menocchio se encaixava no caráter deísta, idéia que foi forte no iluminismo.
Em diversos países estava ocorrendo revoltas contra as instituições católicas, e a mesma estava com receio do avanço protestante, talvez acusar Menocchio de protestante seria algo proveitoso para a situação, pois mostraria como os protestantes eram hereges de acordo com a doutrina católica.
O queijo e os vermes é um livro que eu recomendo para todos que possuem certa admiração pela história, em especial a micro-história, pois seu autor, Carlo Ginzburg, é um dos pioneiros dessa visão histórica. É um livro que não pode faltar na estante de nenhum historiador.