Salve, espectadores do canal! Como já comentei no passado em vídeos do canal, a busca por livros mais gerais, que tentam falar de tudo um pouco em um longo período de tempo, é como caminhar em um campo minado literário. Você pode acabar esbarrando com livros que até podem ser uma leitura fácil, mas não necessariamente têm substância e fôlego pra ir mais além do que só uma leitura rasa. Mas procurando bem, você pode achar alguns livros que são mais encorpados do ponto de vista do critério acadêmico e ainda ser uma leitura agradável.
Algumas pessoas ainda têm essa ideia de que livros acadêmicos grandes e bem respaldados e pesquisados seriam uma leitura enfadonha, mas nem sempre é assim, e aqui está um bom exemplo. O livro de hoje é A história do século XX, de Martin Gilbert.
É ao mesmo tempo fácil e difícil de falar de um livro sobre esse. Fácil porque os principais temas do século XX que merecem atenção em um livro dedicado a esse recorte são fáceis de deduzir mesmo pra quem não leu o livro. Difícil porque essa familiaridade faz com que a relação de conteúdos seja um pouco previsível, então falarei mais dos recortes temporais que o autor fez por capítulo e um pouco sobre a escolhas narrativas para expor um conteúdo histórico de escala global.
O livro tem doze capítulos, e o primeiro deles disserta sobre o período entre 1900 e 1909. É muito interessante perceber como o autor consegue transitar de um lugar ao outro no mundo com boa fluidez, indo desde, por exemplo, o conflito entre o Império Russo e Japão de 1905 até a colônia alemã na Namíbia. Aliás, esse trânsito geográfico acontece durante toda a obra, e eu confesso que não sei se um leitor iniciante ficaria perdido ou não com essas transições rápidas. Eu, pessoalmente, acho que não, mas talvez esses nove anos de academia tenham afetado minha percepção.
A escrita é, sem dúvida nenhuma, simples de entender. Quanto a enorme quantidade de conteúdo alternando rapidamente, acredito que a dificuldade pode variar de leitor pra leitor. Mas eu admito que já vi livros mais difíceis de acompanhar nos voos panorâmicos por uma história mais global. Eu pessoalmente acho que esta obra é mais fácil de acompanhar do que, por exemplo, o livro Era dos Extremos, de Eric Hobsbawm, obra de excelência acima de qualquer suspeita que também fala sobre o século XX, mas que pode ser um pouco mais pesada ao leitor casual.
Como o livro não tem divisões por subtítulos, tendo no máximo algumas linhas em branco para separar blocos, e levando em conta que o autor vai transitando de um lugar ao outro, era fundamental que ele tivesse um índice remissivo, e felizmente o livro tem. Com ele você pode achar quais são exatamente as páginas onde se encontram certas palavras chave, e isso pode te ajudar muito quando você precisar fazer alguma consulta rápida.
O segundo capítulo pega os anos entre 1910 e 1910, demonstrando a configuração do tabuleiro geopolítico que levou à Primeira Guerra Mundial. Como não deve ser surpresa a ninguém, o capítulo seguinte pega justamente esse conflito e o próximo disserta sobre suas consequências, indo até 1925.
Aliás, o período entre o começo da Primeira Guerra e o fim da Segunda Guerra fica com cerca de um terço do livro. O capítulo cinco transita entre 1926 e 1932, o sexto vai de 1933 a 39 (ou seja, entre a chegada de Hitler ao posto de Chanceler da Alemanha até o começo da guerra) e o sétimo pega a Segunda Guerra Mundial. Eu fico só imaginando o quão difícil foi pro Martin Gilbert resumir o período entre 1914 e 1945, levando em consideração que ele escreveu duas enormes obras sobre as duas grandes guerras.
O capítulo oito fala da recuperação do pós-guerra e de quando o impulso inicial de recuperação foi arrefecendo, pegando o período entre 1946 e 1956. Os capítulos seguintes são praticamente divididos por décadas: de 1957 a 67, 68 a 79, 80 a 89 e 90 a 99.
Quando se fala em uma leitura condensada sobre a história do século XX, quase todo mundo se recorda de Era dos Extremos; e com razão, pois o livro é sensacional. Mas se você já conhece aquele livro ou quer uma obra de um autor com uma escrita um pouco mais acessível, eu recomendaria este aqui. Eu, pelo menos, fiquei com a impressão de que ele fala de mais temas, ainda que passe mais rápido por eles, e não só porque ele tem um recorte alguns anos mais longo, mas pelas escolhas temáticas que Martin Gilbert faz. Me parece também que a obra de Hobsbawn é mais analítica em relação a de Gilbert, que me parece um pouco mais expositiva e, por isso, talvez dialogue melhor com o público iniciante. A história do século XX é um livro excelente e extenso que não deveria faltar na estante de ninguém que estuda História Contemporânea.