Salve, espectadores do canal! Em nossa postagem anterior, sobre o livro A revolução iraniana, pude comentar sobre a coleção Revoluções do Século XX, lançada pela Editora Unesp. O exemplar que trago desta vez fala de um evento que completou 100 anos em 2017: As revoluções russas e o socialismo soviético, de Daniel Aarão Reis Filho.
Daniel Aarão é professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense, e nesse livro, pelo que o título já dá a entender, ele não fala especificamente da revolução de outubro apenas – que no nosso calendário foi em novembro –, mas de quatro processos que o autor considera terem tido caráter revolucionário.
O primeiro capítulo já começa bem direto ao ponto, falando sobre a Rússia imperial e algumas questões mais gerais sobre o país, desde o fortalecimento de sua imagem após a derrota de Napoleão, o imperialismo russo, a repressão a quaisquer movimentos de protesto –especialmente em meados de 1848 –, a rejeição da modernidade ocidental e dos erros de cálculo que levaram aos problemas na Guerra da Criméia. Fala sobre a sociedade, a agricultura, os atrasos, a desigualdade, as tentativas de reformismos, e o panorama cujo entendimento é fundamental para entender melhor como uma revolução socialista conseguiu acontecer em um império tão tradicional e extenso. Não deixa de citar também a socialdemocracia russa e as vertentes da esquerda no país, das mais moderadas às mais radicais.
No capítulo 2, o autor fala de três das tais quatro revoluções russas, embora não seja possível, para o autor, traçar uma relação direta entre as quatro: uma em 1905, uma em fevereiro de 2017, outra em outubro do mesmo ano, e uma em 1921 que o Daniel aponta como uma revolução esquecida.
A de 1905 se iniciou após um dos eventos da história conhecidos como Domingo sangrento, quando o exército atirou em manifestantes no Palácio de Inverno de São Petersburgo, em 9 de janeiro, sendo que o Czar nem estava no local. Isso gerou uma onda de protestos e organização popular, mas após a derrota da Rússia no breve conflito com o Japão, ainda em 1905, os militares que voltaram desse conflito ajudaram a conter as sublevações populares.
Depois disso o livro fala sobre o período entre 1906 e 1914, até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, e como ela se relacionou com a queda do Czar no começo de 1917 e o estabelecimento de um governo provisório. Esse governo, no entanto, seria derrubado no processo revolucionário de outubro do mesmo ano. O autor inclusive tenta dar um posicionamento sobre a seguinte pergunta: foi uma revolução mesmo, ou foi um golpe?
Daniel afirma que o evento em questão seria uma síntese de ambas as coisas, golpe na forma como a situação ocorreu – tocada por elite intelectual que diz representar o povo e saber o que é melhor pra ele – e revolução quanto às consequências desse golpe, que mudaram profundamente a Rússia e as nações agregadas a União Soviética, mudanças essas de caráter estrutural.
O capítulo 3 fala sobre o que o autor chama de quarta revolução russa, mais precisamente o estabelecimento do que ficou conhecida como NEP, sigla para Nova Política Econômica, nome esse que essa política ganharia mais tarde. A NEP era uma reação ao fato de que, em 1921, o pais ainda estava muito destruído e instável por conta da guerra civil que se seguiu à revolução e que os bolcheviques venceram.
E a partir daí o livro fala sobre o empreendimento do terror por parte de Stalin nos expurgos da década de 1930, da Segunda Guerra Mundial e as consequências dela para a União Soviética, o pós-guerra e o estabelecimento do que foi chamado de “Socialismo real”, ou seja, o que diziam ser “o socialismo realmente existente”, adaptado para o mundo real, para além da teoria, algo que muita gente até hoje discorda ou mesmo despreza, inclusive dentro da esquerda. Fala sobre as tentativas de reforma, a Perestroika, o fim da União Soviética e a Rússia que veio depois.
RESUMINDO:
Como vocês podem ver, não é só um livro que fala da revolução em si, mas que tenta fazer um resumo de aspectos da história da Rússia desde o século XIX até tempos mais recentes. Assim como os demais livros desta coleção, As revoluções russas e o socialismo soviético é uma boa obra de síntese, indicada tanto ao público geral quanto ao acadêmico. Então, se você quiser começar a estudar esse tema, fica aqui a dica.