Quando eu comecei o Leitura ObrigaHISTÓRIA, em 4 de agosto de 2015, eu não esperava que cresceríamos ao patamar que estamos hoje, no dia em que escrevo esse texto. Era só uma experiência de um mestrando em História que nem sequer sabia editar vídeos. Mais ainda: nem sequer sabia como configurar a câmera direito para se filmar com o mínimo de qualidade que se espera para o YouTube. Eu não tinha nenhuma ambição em especial que não fosse divulgar um pouco de conteúdo histórico no YouTube até que eu perdesse o ânimo de continuar trabalho para se assistido por duas dúzias de pessoas.

Mas não foi o que aconteceu. Graças a ajuda de páginas do Facebook e um público fidelizado, pude perceber que havia algum potencial ali, e dessa forma, o próximo passo era começar a monetizar o canal. Já que dava tanto trabalho, por que não? Não esperava receber qualquer coisa em muito tempo: logo, na prática, ficaria tudo a mesma coisa. E, de fato, foram necessários um ano e dois meses de trabalho para finalmente receber pouco mais de 100 dólares. Não foi exatamente a coisa mais animadora do mundo, mas, novamente, eu nunca esperei que seria diferente.

Contudo, graças ao crescimento constante, a segunda remessa – mais cerca de 100 dólares – veio após três meses, e as perspectivas começaram a ficar mais interessantes. Talvez a médio prazo fosse possível ter uma renda fixa com o YouTube que, pelo menos, sustentasse o canal, pagando novos equipamentos e afins.

Mas logo ficou claro de que isso seria apenas um engodo. Primeiro porque o crescimento não foi exponencial, a ponto da redução do tempo entre um pagamento e outro diminuir. Na verdade, entre o fim de 2017 e começo de 2018, o número de inscrições diárias caiu pela metade e o número de visualizações também. A maioria de nossos vídeos, a despeito de termos mais de 42 mil inscritos no momento em que esse texto é escrito, custa a chegar a duas mil visualizações: ou seja, menos de 1% dos inscritos totais.

Sim, eu sei que adsense não é uma fonte de renda expressiva para quem produz vídeos e não tem inscritos na casa dos 7 dígitos, e milhões de visualizações por mês. Justamente por isso criamos uma campanha no Apoia.se, porque chegou um ponto em que percebi que ou eu tentava profissionalizar o canal, ou o deixaria morrer na praia. A loucura que minha vida se tornou no que concerne às obrigações acadêmicas fazia com que a manutenção do canal fosse injustificável, exceto em caso de ele se tornar um projeto sólido, à longo prazo e feito para durar por muito, muito tempo. E isso não poderia acontecer sem um retorno financeiro adequado. E esse retorno atualmente vem de nossos apoiadores.

Mas, ainda assim, mesmo que o dinheiro que o YouTube nos proporciona seja pouco, ainda é um pequeno incentivo. No entanto, eis que surgiu aquilo que ficou conhecido como Adpocalypse, o “apocalipse do adsense“, por motivos que não não relevantes ser citados aqui. E as coisas começaram a mudar.

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Não nos cabe aqui discutir as mudanças nas regras para estar habilitado a fazer parte do programa de parceiros do YouTube. O que nos diz respeito é expor o quão frustrante é para um produtor de conteúdo cujos vídeos são meramente acadêmicos, de conteúdo histórico, sociológico e etc., e que buscam sempre atentar para os “dois res”: respaldo e respeito.

E por que frustrante?

Porque após o aumento da rigidez no controle dos vídeos que poderiam ser ou não monetizados, foi implantado um algoritmo na plataforma que analisaria seu conteúdo e, dependendo do resultado, seu vídeo seria desmonetizado, sendo necessário pedir uma “análise manual”, esta supostamente feita por alguém da equipe do YouTube.

A Google, empresa dona do YouTube, nunca explicou satisfatoriamente os critérios deste algoritmo, e há meses vários produtores de conteúdo têm tido seus vídeos desmonetizados por motivos que, muitas vezes, ninguém sabe ao certo. Mas um dos critérios já está bem declarado atualmente: “temas sensíveis” aos patrocinadores. Se o algoritmo percebe que o vídeo fala de qualquer assunto considerado “sensível” ou “controverso”, seu vídeo pode ter a monetização retirada. E quase todas as vezes que pedimos “análise manual”, eles recuperavam o direito a receber adsense.

Só que a coisa piorou. Vários vídeos antigos do canal tiveram suas monetizações desativadas sem nenhum tipo de aviso, o que nos obriga a, periodicamente, voltar páginas e páginas de vídeos antigos para pedir a análise deles. E, recentemente, outra mudança simplesmente matou a possibilidade de recuperação de adsense em vídeos do passado: agora as análises manuais só são feitas em vídeos que tiveram pelo menos 1000 visualizações na última semana. Levando em conta de que a maioria esmagadora de nossos vídeos antigos desmonetizados hoje em dia mal são assistidos, o resultado é um só: a monetização deles se perde de vez. Se ela se perde no primeiro dia, ainda há chances de recuperação Caso contrário, a chance de reverter a situação é praticamente nula (em nosso caso, não podemos falar de outros canais).

E há temas que simplesmente são inescapáveis quando falamos de história. Quase todos os vídeos que fiz sobre livros relacionados à Alemanha Nazista estão até hoje esperando análise, só para citar um exemplo de tipo de “tema sensível”. Em nosso vídeo sobre o conceito de Fascismo o prejuízo foi ainda pior: estando no Top 5 de nossos vídeos mais assistidos, ele perdeu sua monetização e a análise manual do YouTube o desqualificou permanentemente. Ou seja: aquele vídeo que levou semanas pra ficar pronto, foi gravado em um quarto todo fechado em pleno verão florianopolitano e levou dias pra ter sua edição finalizada não pode gerar mais um mísero centavo, porque, tecnicamente falando, o YouTube afirma que seus patrocinadores não querem seus comerciais em um vídeo educativo sobre um tema sensível, porem atual e necessário, totalmente respaldado na bibliografia acadêmica sobre o tema, sem fins de militância política.

Não somos o único canal que faz vídeos sobre História e passa por isso, lógico. O próprio Felipe Castanhari, que faz vídeos de história no canal Nostalgia, já afirmou em vídeo que este material é seguidamente desmonetizado. A diferença é que o canal em questão tem mais de 10 milhões de inscritos e tem fontes de renda que lhe permitem bancar esses vídeos – que são caros de produzir – mesmo sem esse retorno financeiro da plataforma. Já o nosso canal, pequeno do jeito que é, poucas chances tem de se manter ao decidir se profissionalizar por essa via.

Por isso que estamos sempre buscando alternativas que nos permitam não apenas a continuar nosso trabalho, mas também manter nossa integridade. E até o momento, as formas que nos pareceram mais honestas e efetivas foram o financiamento coletivo pelo Apoia.se e a recente disponibilização de links para compra de livros que nos fornecem pequenas comissões.

Se você que está lendo esse texto estiver pensando em criar um canal do YouTube tendo a monetização como objetivo, meu conselho é simples: não o faça. A arrecadação de quaisquer valores advindos de seu trabalho via adsense deve ser consequência, não uma finalidade. Agora, se você quer fazer seu conteúdo pela satisfação de fazê-lo, esteja ciente de que você trabalhará muito, e só depois de um bom tempo de trabalho você terá condições de pensar em tornar seu hobbie em trabalho.

A todos que nos apoiam das mais diferentes maneiras, financeiramente ou não, muito obrigado.