Salve, espectadores do canal! Hoje falaremos sobre a reedição de um livro bastante importante, lançada em 2017 pela editora Paz e Terra, que faz parte do grupo Record. O livro de hoje é Os excluídos da história: operários, mulheres e prisioneiros, de Michelle Perrot.

Pra começar, eu preciso dizer que esse livro não é exatamente um “livro”, por assim dizer, e é nessa hora que você fica confuso. Como assim “não é um livro?”.

Michelle Perrot é uma das historiadoras mais importantes da França. No entanto, ela não é muito conhecida no Brasil fora dos círculos acadêmicos, e contribui pra esse desconhecimento o fato de que ela sempre preferiu, aparentemente, publicar artigos em revistas e materiais espalhados do que lançar obras de maior fôlego. Esse aqui, por exemplo, não é um livro que ela lançou, mas uma compilação de textos da autora, que inclui de tudo um pouco: artigos de revista, texto de palestra, capítulo publicado em outros livros, tudo selecionado pela historiadora brasileira Maria Stella Martins Bresciani. Nas páginas 11 e 12 há uma lista completa informando de onde cada texto foi retirado.

Apesar de a junção desses textos não ter sido feita pela Michelle Perrot, isso não compromete a qualidade da obra, pois os textos selecionados estão todos tematicamente conectados, e são divididos em três partes, cada uma delas relacionada a um dos três grupos que aparecem no subtítulo: mulheres, operários e prisioneiros.

É importante dizer, também, que todas as experiências que a autora estudou dizem respeito à França, o que pra algumas pessoas pode não ser tão animador, já que está tudo focado em um único país. No entanto, nesse tipo de estudo, sempre é possível aproveitar muita coisa mesmo quando não há interesse no recorte geográfico escolhido por quem pesquisa. A formação da casse operária inglesa, do E.P. Thompson, não virou um clássico necessariamente por falar do caso inglês: ele se tornou um clássico pela escolha do tema, pela forma como ele abordou a problemática e respondeu às perguntas que ele mesmo formulou.

Os excluídos da História é dividido em três partes, cada uma delas dedicada a um dos grupos citados anteriormente. A primeira delas é dedicada aos operários e tem cinco capítulos: um sobre a relação dos operários com as máquinas na primeira metade do século XIX, um sobre a disciplina industrial no mesmo século, outro sobre como os operários viam os seus patrões, entre 1880 e 1914, outro sobre a relação dos trabalhadores com suas moradias e com suas cidades no século XIX, e por fim, o quinto capítulo fala sobre a primeira vez em que o primeiro de maio, dia do trabalhador, deu nascimento a um rito operário, mais precisamente em 1890.

A segunda parte foca nas mulheres, sendo o capítulo seis um texto sobre a relação entre as mulheres e o poder no decorrer da história. O sétimo fala sobre a rebeldia popular feminina, enquanto o oitavo fala sobre a dona de casa no espaço parisiense do século XIX.

Os três últimos capítulos falam sobre os prisioneiros. O capítulo nove fala sobre delinquência e o sistema penitenciário francês no século XIX, o décimo fala sobre as revoluções de 1848 e as prisões (lembrando que, nesse caso, o foco é a França), e o último capítulo fala sobre os “Apaches”, e aqui eu não falo do grupo de nativos dos Estados Unidos. Os Apaches eram um grupo de jovens bandidos do underground parisiense na Belle Époque, que acabaram virando uma espécie de fenômeno social. Ao mesmo tempo em que eram violentos e muito temidos, eram bastante invejados e estavam sempre presentes nos jornais da época.

Se você se interessa pelo que se convencionou chamar de “História vista de baixo”, esse livro é uma leitura obrigatória. Mesmo sendo majoritariamente focado em questões francesas, é muito interessante para quem trabalha com perspectivas semelhantes saber como a autora fez sua pesquisa. Ao fim de todos os capítulos constam as referências, você vai achar com facilidade.