Salve, espectadores do canal! Hoje eu vou falar de um lançamento da Editora Unesp que, desde que eu vi pela primeira vez o anúncio, eu botei na cabeça que eu tinha que apresentar pra vocês, por dois motivos. Primeiro, porque o autor é um historiador que eu gosto muito e que teve uma influência muito forte pra eu começar minha inserção na História Pública – sendo que eu nem conhecia esse termo na época –, e em segundo porque o tema é extremamente relevante e atual, mesmo sendo um livro cujo recorte temporal vai de 1500 a 2000. O livro de hoje é Perdas e ganhos: exilados e expatriados na história do conhecimento na Europa e nas Américas, 1500-2000, de Peter Burke, lançado no Brasil pela Editora Unesp.

perdas e ganhos

Eu vou pular a parte em que eu falo do autor da obra porque eu já fiz um vídeo sobre ele aqui no canal, que você pode assistir clicando no vídeo abaixo. Sobre o livro: ele tenta fazer uma conexão entre duas áreas crescentes dentro da história, que sãos os estudos das migrações e dos imigrantes, e os estudos sobre a história do conhecimento, ou seja, como o conhecimento vem sendo produzido e construído coletivamente pela humanidade no passar dos séculos. O objetivo dele é fazer uma história da diáspora dos exilados e expatriados, focando principalmente nos saberes deslocados de um lugar para o outro com esses sujeitos.

A busca por um refúgio que exige um exílio traz uma série de barreiras para quem é refugiado. O deslocamento faz com que você perca laços identitários, trazem sensações de insegurança, isolamento e nostalgia, e quase sempre colocam o refugiado em uma situação de pobreza, desemprego, dificuldades com o idioma do novo local e problemas com outros estrangeiros e com cidadãos nativos do lugar. Mesmo para quem tem uma formação respeitável, às vezes a mudança traz como consequência a perda de status profissional.

Essas são as “perdas” as quais o título do livro se refere. Mas quais são os ganhos?

Apesar do número gigantesco de mentes brilhantes perdidas para os infortúnios dos exílios, a história conta com muitos casos de expatriados que foram fundamentais para a divulgação de conhecimento, cultura, ciência, entre outras coisas que o contato permitia. Você tem casos de exilados que tentam se “aculturar” plenamente nos novos países, outros preferem criar uma segregação voluntária, se aproximar apenas de outros imigrantes e exilados e formar uma nova comunidade com seus conterrâneos em terra estrangeira, e você tem aqueles que buscam uma espécie de “caminho do meio”, e é aí que muitos dos exilados que mais contribuíram com a difusão do conhecimento e a ciência costumam estar.

Há também a questão geracional. Normalmente a primeira geração de exilados é a que mais sofre com idioma, cultura, desemprego e afins, e as gerações seguintes vão se adaptando melhor por nascer no novo país.

Como vocês devem ter notado no subtítulo do livro, o recorte temporal que o autor escolheu é muito grande. Pra balancear essa escolha, ele optou por um recorte “temático”, limitando sua pesquisa apenas a acadêmicos e cientistas, focando nas contribuições deles para a ciência e o conhecimento como um todo. Outro recorte que ele optou foi por focar mais em nomes das ciências humanas, porque segundo o autor, o impacto na construção do conhecimento de um acadêmico das Ciências Humanas em uma situação de deslocamento e exílio costuma ser muito maior do que no caso das Ciências Naturais, por exemplo. Na introdução do livro, Burke explica melhor os grupos que entraram ou ficaram de fora, e os motivos de suas escolhas

A escrita do autor é muito tranquila. Mesmo quando eu tinha acabado de entrar na primeira fase do curso de História e apanhava pra alguns livros e textos que eu lia, os livros do Peter Burke se destacavam pra mim justamente porque eram muito fáceis de ler. Se você é um entusiasta da História ou um estudante da área nos seus estágios inicias, pode ler qualquer coisa que Peter Burke escreveu sem medo de errar.

E assim como todos os outros livros anteriores do autor, Perdas e ganhos é uma leitura tranquila, mas muito rica, e faz um voo panorâmico pelo tema que vai agradar a qualquer um que estude migrações.